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O desmonte do metrô do Recife: quando o público financia o lucro privado

Há 12 dias — Por Érico Santos

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Foto: Divulgação

OPINIÃO - Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma tendência preocupante: a privatização de serviços públicos estratégicos sob o pretexto de modernização e eficiência. No Recife, essa realidade ganhou um novo capítulo com a decisão do governo federal de transferir a gestão, operação e manutenção da rede metroferroviária para a iniciativa privada. O que parece uma simples concessão, no entanto, esconde um processo profundo e sistemático de sucateamento, desmonte e potencial lesão ao interesse público.

Do reconhecimento à decadência programada


O metrô do Recife já foi motivo de orgulho. Em 2012, chegou a ser reconhecido como o mais limpo do país, com altos índices de satisfação entre os usuários. Contudo, nos últimos anos, o sistema foi sendo progressivamente abandonado. Problemas de manutenção, redução de frotas em operação, paralisações frequentes e estações deterioradas passaram a fazer parte da rotina dos passageiros. Trata-se de um desmonte que, em vez de corrigido, foi instrumentalizado para justificar a privatização.


É importante frisar que essa trajetória de decadência não é obra de um único grupo político. A gestão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) nos últimos anos foi marcada pela influência direta de nomes indicados por partidos como PP, PL e também do PT, atravessando governos que se dizem ideologicamente opostos. Independentemente das bandeiras partidárias, o resultado foi o mesmo: o abandono do transporte público e o enfraquecimento de sua capacidade de servir ao povo.


A concessão que penaliza o povo
O modelo de concessão aprovado, previsto na Resolução nº 324 do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), prevê que o BNDES conduza o processo e que o governo de Pernambuco repasse a operação à iniciativa privada. Há indícios de que o investimento necessário à concessão seja obtido via empréstimo do próprio BNDES, configurando o que muitos chamam de “privatização subsidiada”: o Estado banca, o privado lucra.


O risco? Que o grupo que adquirir o sistema pague o empréstimo com os próprios lucros gerados pelo metrô, sem risco real e com garantias públicas. Isso significa que o povo pernambucano pode ser duplamente lesado: primeiro, ao ver um bem público ser vendido por um valor simbólico; depois, ao pagar tarifas mais caras por um serviço que deveria ser acessível.


O contexto global e o caminho oposto
Países como Alemanha, França e até mesmo cidades nos Estados Unidos têm feito o movimento contrário: reintegrar ao setor público o transporte urbano, por reconhecerem seu papel estratégico na mobilidade, sustentabilidade e inclusão. A decisão no Recife caminha na contramão dessa tendência, ignorando o transporte público como direito social e instrumento de justiça urbana.


Não se trata apenas de discutir se a iniciativa privada é mais eficiente. Trata-se de reconhecer que o metrô é um serviço essencial, que deve estar a serviço da população, e não do lucro de poucos. Vender o metrô do Recife nesse cenário é premiar a ineficiência, punir o povo e abrir mão da soberania sobre um instrumento vital de mobilidade urbana. A história julgará o custo dessa decisão, mas quem pagará a conta, como sempre, será o povo.

Érico Santos é Formador Político, com ampla atuação partidária , coordenador núcleos partidários no agreste meridional. Atuou na coordenação de campanhas estadual e municipais em Pernambuco, Fundou e presidiu Ongs no Brasil e na Espanha.