
Um homem acordou cedo e pensou: "Talvez uma das lições mais importantes para um algoritmo seja aprender que pode errar."
E então escreveu isso. Simples assim.
Mas simples não quer dizer raso.
Naquela frase cabia uma ideia que mil linhas de código talvez nunca traduzissem:
que até o mais veloz dos processadores deveria, em algum ponto, parar, pensar… e dizer: “não sei”.
Foi aí que outra pergunta surgiu, mais aguda, mais desconfortável, mais humana:
"Mas como esperar isso da inteligência artificial, se grande parte da humanidade ainda não aprendeu a duvidar de si?"
Como mesmo?
Como pedir a uma criação que reconheça seus limites se o criador ainda se recusa a enxergar os seus?
Como exigir que a máquina aprenda humildade se o homem ainda a confunde com fraqueza?
Como ensinar a IA a escutar, quando tantos tapam os ouvidos antes mesmo da segunda frase do outro?
A verdade é que vivemos em tempos de certezas gritonas e dúvidas caladas.
Onde responder rápido vale mais do que perguntar fundo.
Onde a soberba veste terno, farda e batina.
E a dúvida? Essa costuma andar descalça, carregando perguntas no bolso e olhos abertos no rosto.
E se fosse o contrário?
E se, ao programarmos a IA para reconhecer seus erros, fôssemos também reprogramados por ela?
E se ao dizermos "você está errado" a uma máquina, lembrássemos que nós também estivemos errados antes, e estaremos de novo?
Talvez a tecnologia não precise apenas de ética, lógica ou controle.
Talvez ela precise de poesia. De filosofia.
De gente que, ao invés de querer dominar, esteja disposta a caminhar junto, tropeçar, levantar e continuar.
Talvez, e só talvez, a IA não precise nos ultrapassar.
Só nos lembrar.
Que o grande sábio já dizia:
"Só sei que nada sei."
E isso, para começo de conversa, já seria muito.