
A megaoperação policial realizada na última terça-feira (29) nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em ao menos 119 mortos, incluindo quatro policiais, gerou uma onda de repúdio nacional e internacional. Diversas organizações sociais, instituições públicas e figuras políticas questionaram a ação, considerada a mais letal da história do estado. Em carta pública intitulada “Segurança pública não se faz com sangue”, 28 entidades de direitos humanos entre elas Anistia Internacional Brasil, Justiça Global e Redes da Maré afirmam que “a morte não pode ser tratada como política pública”.
O documento critica a gestão do governador Cláudio Castro (PL), apontando que ele é “responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do Rio”. As entidades afirmam que ações desse tipo “não reduzem o poder das facções criminosas, mas aprofundam o medo, interrompem o cotidiano e impõem o terror como expressão de poder estatal”. A deputada estadual Renata Souza (PSOL) anunciou que apresentará denúncias à ONU e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, solicitando acompanhamento internacional e perícia independente sobre as mortes.
A repercussão chegou à esfera global. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, por meio de seu titular Volker Türk, declarou que “a longa lista de operações que resultam em muitas mortes sobretudo entre pessoas de ascendência africana levanta sérias questões sobre como essas ações são conduzidas”. Já a Fiocruz, em manifesto assinado por 43 instituições, afirmou que a operação “evidenciou a insustentabilidade das políticas estaduais de segurança”, classificando o cenário como uma crise de saúde pública e socioeconômica.
Nas redes sociais, o Instituto Marielle Franco acusou o governo de usar “corpos estendidos como palanque político” e denunciou o que chamou de “regime de Apartheid social e racial”. A instituição também apresentou denúncia à ONU e à CIDH, afirmando que busca “justiça internacional para pôr fim à política de extermínio”.
Em notas oficiais, órgãos públicos reforçaram a necessidade de controle institucional das forças de segurança. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) afirmou acompanhar o caso “com preocupação”, defendendo que o enfrentamento ao crime deve se basear em inteligência e preservação da vida. A OAB, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e a Defensoria Pública da União (DPU) também repudiaram a operação, destacando que o combate à criminalidade “não pode resultar em execuções sumárias ou violação de direitos fundamentais”.



